Texto: 1 Coríntios 10.15-22
15 ¶ Eu falo com vocês como com pessoas que têm capacidade para entender o que estou afirmando. Julguem vocês mesmos o que eu estou dizendo.
16 Pensem no cálice pelo qual damos graças a Deus na Ceia do Senhor. Será que, quando bebemos desse cálice, não estamos tomando parte no sangue de Cristo? E, quando partimos e comemos o pão, não estamos tomando parte no corpo de Cristo?
17 Mesmo sendo muitos, todos comemos do mesmo pão, que é um só; e por isso somos um só corpo.
18 Pensem no povo de Israel. Aqueles que comem as coisas oferecidas em sacrifícios tomam parte juntos no sacrifício que é oferecido a Deus no altar.
19 O que é que eu quero dizer com isso? Que o ídolo ou o alimento que é oferecido a ele tem algum valor?
20 É claro que não! O que estou dizendo é que aquilo que é sacrificado nos altares pagãos é oferecido aos demônios e não a Deus. E eu não quero que vocês tomem parte nas coisas dos demônios.
21 Vocês não podem beber do cálice do Senhor e também do cálice dos demônios. Vocês não podem comer na mesa do Senhor e também na mesa dos demônios.
22 Ou será que queremos provocar o Senhor, fazendo com que ele fique com ciúmes? Por acaso vocês pensam que somos mais fortes do que ele?
INTRODUÇÃO:
Em direito, entende-se por liberdade condicional: o sistema em que um condenado ao invés de cumprir toda a pena, encarcerado, é posto em liberdade se houver preenchido determinadas condições impostas legalmente.
Desde o capítulo 8, Paulo tem nos mostrado que o cristão é salvo por Jesus e por isto, liberto do poder do pecado. Enquanto o homem mundano, não salvo, está escravizado, o salvo está livre e sua liberdade é total. No entanto, apesar de livre, vimos que embora possamos fazer o que quisermos, nossa vida deve ser pautada por princípios estabelecidos por Deus, ou seja, existem condições à nossa liberdade.
Na semana passada, vimos que o fato de o povo judeu ter observado muitos privilégios espirituais não garantiu a eles sucesso e aprovação espiritual, da parte de Deus. Eles cobiçaram as coisas mundanas, idolatraram o mundo, em consequência perderam a noção dos valores morais, acharam que sairiam impunes disso e começaram a murmurar contra a liderança que Deus lhes havia dado, o resultado, foi que todos pereceram. Assim, Paulo disse, quem acha que está bem espiritualmente, que está seguro de si, olhe para não cair, quem acha que é fraco espiritualmente, acredite, o Senhor lhe dará forças para continuar. Mas para que sejamos aprovados, precisamos nos sentir livres, mas com liberdade condicional. Porque há condições que devemos observar, apesar de sermos livres?
- 1.PARTICIPAR É TOMAR PARTE
O ensinamento de Paulo nestes versículos que estamos estudando mostra que participar de um culto é tomar parte com ele, é se fazer um com o Deus ao qual se adora.
Nos versos 16,17 Paulo afirma que no momento da Ceia da Senhor (que observamos em nossa igreja nos dias de hoje), o cristão que dela participa faz-se um com Cristo e com sua igreja. Aqui Paulo dá ênfase que tomar o cálice (suco de uva) é comunhão com o sangue de Cristo, e comer o pão é comunhão com o corpo dele. Neste caso, participar da Ceia do Senhor é entrar em contato espiritual com o sacrifício de Cristo no calvário. Paulo ainda explica que a Ceia do Senhor também evoca a unidade dos crentes, dos membros da igreja.
Ainda tendo esta ideia na mente, Paulo lembra que os judeus faziam sacrifícios de animais a Deus no templo. E Paulo afirma que quem comia daqueles sacrifícios tomavam parte juntos daquele sacrifício que era oferecido a Deus.
O que Paulo está dizendo é que quem participa de um culto está tomando parte, entrou em comunhão, com o ser que se adora naquele culto. Assim, Paulo que vinha falando da liberdade dos cristãos, mostra que participar de uma mesa religiosa, seja de qual divindade for, é tomar parte com o ser que a mesa homenageia, e neste caso, isto não é ser livre, mas é fazer uma ofensa ao Deus verdadeiro.
- 2.SÓ EXISTE UM DEUS – MAS EXISTEM DEMÔNIOS.
Por que o conselho de Paulo era para que ninguém comesse daquelas carnes? Ele já havia afirmado que o salvo é livre para fazer o que quiser e já havia mostrado que os ídolos são representação de algo que não existe, portanto não são nada. Por que agora dizer que não se devia comer, depois de dizer que podia comer, como vimos no capítulo 8?
Paulo traz aqui uma informação nova e importante. Ele sabia que os coríntios leriam a carta toda e não apenas uma parte. Os deuses não existem. O que os ídolos representam também não. Mas existem demônios. Nos versículos 19 e 20 ele deixa claro que o ídolo e o alimento oferecido a ele não são nada de mais, são coisas sem valor ou existência espiritual.
Mas Paulo diz, na sequencia do verso 20, que aquelas ofertas eram feitas aos demônios e não a Deus. Aqui quero compartilhar algumas informações que julgo importante, retiradas do comentário BARCLAY. “quando se oferecia um sacrifício, parte da carne era entregue ao paroquiano e com ela este celebrava uma festa. Sustentava-se que o mesmo deus era um dos convidados a tal festa. E
mais ainda, muitas vezes se sustentava que depois que a carne tinha sido sacrificada, o próprio deus estava nela e que durante o banquete penetrava nos corpos e espíritos daqueles que a comiam. (…) uma comida depois do sacrifício conformava uma verdadeira comunhão entre o deus e seu adorador. A pessoa que sacrificava, em um sentido real estava compartilhando com o altar, tinha uma comunhão mística com o deus
(2) Nessa época todo mundo cria nos demônios. Estes podiam ser malignos ou benignos, mas a maior parte das vezes eram malignos. Eram espíritos que agiam como intermediários entre os deuses e os homens. Para os gregos todo manancial, arbusto, montanha, todo lugar tinha seu demônio.
O mundo estava repleto de demônios. Para os judeus eram os shedim. Estes eram espíritos malignos que habitavam casas abandonadas, que espreitavam “nas migalhas no solo, no azeite nas vasilhas, na água que se bebia, nas enfermidades que atacavam as pessoas, no ar, nas habitações, de dia e de noite.” Paulo cria nestes demônios; chama-os “principados e potestades”.
“Seu ponto de vista era o seguinte: um ídolo não era nada e não representava nada, mas toda a questão da adoração dos ídolos era obra dos demônios. Através dela seduziam os homens e os afastavam de Deus. Quando adoravam os ídolos, os homens pensavam que estavam adorando deuses, em realidade eram enganados por esses demônios malignos de modo que a adoração dos ídolos punha o homem em contato, não com Deus, mas com os demônios; e qualquer coisa que se relacionasse com isso tinha um selo demoníaco”.
“A carne que era oferecida aos ídolos não tinha nada, mas o fato era que tinha servido aos propósitos dos demônios e, portanto, estava contaminada”.
Esta contaminação, em minha opinião, não significa que a pessoa ficaria endemoninhada porque comeu a carne, mas que se aceitasse sabendo do que se tratava, concordou com a mentira e a destruição que o culto idolátrico proporcionava. Desta forma, ofendia-se a Deus e ajudava a proliferação da obra satânica.
Aqui cabe a orientação, por exemplo, para que as crianças não comam as balinhas de Cosme e Damião, ou os ovos da páscoa, que servem a propósitos demoníacos, uma vez que destroem os conceitos verdadeiros da Biblia.
- 3.SANTIDADE EXIGE DISCIPLINA
O mesmo comentário BARCLAY, também afirma que “deste grupo de crenças antigas obtemos um princípio permanente: aquele que se sentou à mesa de Jesus Cristo não pode ir sentar-se à mesa que é instrumento dos demônios. Se alguém esteve em contato com o corpo e o sangue de Cristo (Ceia do Senhor – Igreja) não pode tocar certas coisas”.
Nossa liberdade está quebrada neste sentido? De modo nenhum, mas adentramos ao princípio da santidade. Por detrás desta palavra está a ideia de separação para uso exclusivo de Deus, evitando manchar-se com qualquer atitude ou conceito que nos afaste de um relacionamento profundo com o Senhor.
Portanto, ao cristão cabe ser santo e não tocar naquilo que é considerado uma afronta a Deus, por enganar pessoas e leva-las ao distanciamento do Senhor.
Dizem que “Uma das grandes esculturas de Cristo foi a realizada por Thorwaldsen; depois de tê-la esculpido, alguém lhe ofereceu uma soma de dinheiro para fazer uma estátua de Vênus para o museu do Louvre. Sua resposta foi “A mão que esculpiu o corpo de Cristo não poderá nunca esculpir o corpo de uma deusa pagã.” Então em Corinto e hoje aqui, o homem que esteve em contato com as coisas sagradas de Cristo não pode sujar suas mãos com objetos insignificantes e sem valor.
CONCLUSÃO:
Temos liberdade, mas ela é condicional. Temos que fazer de tudo para que Cristo seja respeitado e valorizado, e evitar qualquer ação que resulte em prejuízo para as pessoas, sejam elas salvas ou não.