POLÍTICOS-PASTORES, PASTORES-POLITICOS OU PASTORES?

Aproximam-se as eleições, as candidaturas já estão definidas. É um mosaico de partidos que partem o Brasil de acordo com suas conveniências, seus interesses pessoais e escusos. No dizer de Josias de Souza, colunista da Folha-UOL, é uma promiscuidade política sem precedentes. A nossa leitura correta é que o fisiologismo reina na política brasileira. Não há convicções, mas interesses de grupos que buscam o poder pelo poder. Uma feira de vaidades. Esta realidade nos causa asco. É neste ambiente fétido que muitos pastores – de pequenas e grandes igrejas – se arvoram para pleitear um mandato. Correm atrás do voto em vez de correrem atrás das ovelhas do Senhor, de quem são co-pastores (na verdade, não somos dignos de ser chamados pastores). É por esta razão que Paulo testemunha dizendo: “Pela graça de Deus, sou o que sou” (1 Co 15.10). Homens que foram chamados para cuidar do povo de Deus estão se embaraçando com negócios desta vida, contrariando o ensino apostólico (2 Tm 2.1-13). O texto é claríssimo. Não podemos dividir o ministério. Deve ser integral e exercitado de maneira íntegra.

            É neste contexto político que há políticos-pastores. Como serão políticos na condição de pastores? Como pode haver conciliação? Sendo político, como será um pastor, cuidando das pessoas? Sendo ministério integral ou não, como se envolver com mais coisas sem prejudicar o ministério? Ao postular a política, deve-se deixar o ministério. Pastorado e política são como água e óleo, não se misturam. É muito triste a falta de discernimento tendo como motivação o interesse pessoal, a busca pela tietagem e poder. O político deve ser só político. Deve cuidar dos interesses do povo que o elegeu. A política séria, fundamentada na ética, na justiça, no bom senso e no compromisso inadiável e inalienável com o povo, deve ser integral. O político deve se especializar naquilo que faz. Buscar a excelência no exercício do mandato. Deve cuidar do povo que o consagrou como legislador ou para exercer o poder executivo. A política não é para amadores, mas para pessoas preparadas, qualificadas em leis, gestão publica e ética em todos os níveis. É preciso ter senso do ridículo. Admitindo seus erros e pedindo perdão à população.

            É necessário também refletir sobre o termo pastores-políticos. Onde fica o ministério aqui? Quanta irresponsabilidade. Aquele que foi chamado pelo Senhor para a obra do ministério deve ter a consciência da sua vocação e do serviço para o qual foi convocado. Pastor é pastor. Ele é um profeta comprometido com a verdade da Palavra. O seu vade-mecum é a Escritura. Ele não se envolve com política partidária porque precisa ter isenção para fazer as críticas pertinentes, para denunciar o erro à luz da Palavra de Deus. Liderar a comunidade nas reivindicações e cobranças. Veja o que o Senhor disse através de Ezequiel: “Portanto, ó pastores, ouvi a palavra do Senhor: Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, visto que as minhas ovelhas foram entregues à rapina e se tornaram pasto para todas as feras do campo, por não haver pastor, e que os meus pastores não procuram as minhas ovelhas, pois se apascentam a si mesmos e não apascentam as minhas ovelhas, – portanto, ó pastores, ouvi a palavra do Senhor: Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu estou contra os pastores e deles demandarei as minhas ovelhas; porei termo no seu pastoreio, e não se apascentarão mais a si mesmos; livrarei as minhas ovelhas da sua boca, para que já não lhes sirvam de pasto” (Ez 34.7-10). O texto é muito claro quanto à negligência de alguns em relação ao chamado para pastorear, para serem “pastores segundo o coração de Deus” (Jr 3.15).

            Pastores que se engajam em campanhas políticas visando a sua própria candidatura e fazem conchavos para o seu próprio benefício não estão aptos para o ministério. Lamento que haja membros de Igreja que apóiam tais obreiros. Estes pastores fazem dos incautos sua massa de manobra. Servem-se deles para os seus interesses e caprichos. Fazem de suas Igrejas feudos. É impressionante o número de obreiros que controlam ferrenhamente comunidades eclesiásticas. Mandam e desmandam. Ameaçam. Usam mecanismos suspeitos. Fazem conchavos em suas próprias igrejas para apoiarem seus sonhos megalomaníacos. Não sou contra cristãos na política. Eles são necessários, pois devemos ser sal da terra e luz do mundo como nos ensinou o Senhor Jesus (Mt 5.13-16). Pastores na política partidária é uma agressão violenta ao evangelho. Na verdade, é um absurdo. Há tanta coisa excelente para se fazer no ministério que o tempo é pouco. Há muitos irmãos desassistidos por obreiros que terceirizam o ministério. Temos, como pastores, um compromisso de amor com o Senhor e o Seu povo. Neemias, convidado por Sambalate, Tobias e Gesém, inimigos do povo de Deus, para se reunir com eles no Vale de Ono, respondeu-os, dizendo: “Estou fazendo uma grande obra de modo que não poderei descer” (6.1-4). Há muita gente no ministério descendo para os encontros da política partidária, fazendo conchavos com pessoas suspeitas, envolvendo-se em manobras esquisitas. Passando a ser partidários de um sistema político nefasto, altamente prejudicial para a Igreja de Jesus.

            O que somos? Esta pergunta deve nos calar profundamente o coração e nos levar a uma única resposta: Somos pastores, homens comuns, chamados para um trabalho extraordinário.  O apóstolo Paulo é taxativo: “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério” (2 Tm 4.5). O tempo que temos do Senhor deve ser usado para ministrarmos diante dÊle e do Seu povo, bem como cuidarmos de nossas famílias. Na verdade, somos co-pastores do Senhor Jesus Cristo. O ministério não é nosso, mas exclusivamente dEle. Temos falhado como pastores, pois não estamos comprometidos totalmente com o múnus profético (pregação bíblica, expositiva) e com o pastoreio bíblico (cuidar amorosamente das pessoas) e o trabalho de evangelização pessoal. Lembremos que o mesmo Paulo testemunha magistralmente: “Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros (huperetes –  criado, remador de baixa categoria, remador subordinado) de Cristo e despenseiros (oikonomos – administradores, superintendentes do Senhor, do Seu tesouro) dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel ( pistos – verdadeiro, aquele em quem se pode confiar, digno de confiança, íntegro, honestíssimo)  (1 Co 4.1,2). O texto, meus amados  irmãos, é muito lúcido. Vocês e eu somos pastores apenas pela graça de Deus, pelo mérito de Cristo e, por nós mesmos, somos desqualificados para a envergadura da vocação-missão. Então, pastores na política partidária é um desperdício. É uma agressão ao chamado de Deus. É laborar em terreno estranho e árido. É neste terreno que ocorrem as quedas espirituais, emocionais e morais. Além disso, a política partidária fisiologista é uma escola onde as pessoas aprendem a ser artificiais e altamente pragmáticas ou utilitaristas.  

            Que tenhamos coragem, intrepidez e ousadia para que, dos púlpitos, denunciemos os pecados dos políticos – a irresponsabilidade, a corrupção, a imoralidade e os interesses meramente pessoais, utilitaristas e egoístas. A Igreja não precisa de políticos-pastores, nem de pastores-políticos, mas de pastores comprometidos com o caráter do Senhor Jesus Cristo, com a missão que Ele nos legou e vai nos cobrar quando  voltar. Valho-me das palavras de um profeta do século XX, Aiden Wilson Tozer: “A Igreja, neste momento, precisa de homens prontos a gastarem-se no combate das almas. Tais homens estarão livres das compulsões que controlam os mais fracos, da concupiscência dos olhos, da concupiscência da carne e da soberba da vida. Eles não serão forçados a fazer coisas sob pressão das circunstâncias. A sua única motivação virá de dentro e de cima. Esta qualidade de liberdade  é necessária, se queremos ter de novo profetas nos nossos púlpitos, em vez de mascotes. Estes homens livres servirão a Deus e à humanidade por motivos demasiado elevados para serem compreendidos pelo povo comum que se arrasta hoje para dentro e para fora do santuário. Eles não tomarão decisões com base no medo, não seguirão qualquer rumo só para satisfazer um desejo, não aceitarão qualquer serviço por razões financeiras. Não praticarão qualquer ato religioso por mero costume. Nem permitirão a si mesmos ser influenciados por amor da publicidade, ou pela ambição duma boa reputação” (À Procura de Deus, Betânia, MG).

            Que o Senhor nos dê sempre a graça de sermos pastores segundo o Seu coração, à semelhança de Jesus Cristo, Supremo Pastor, que deu a Sua vida pelas ovelhas. Sejamos ministros de Deus, chamados para servir a Cristo Jesus com contentamento. Sirvamos às pessoas com alegria e singeleza de coração. Que o Pai seja glorificado em nossos ministérios!


 

Oswaldo Luiz Gomes Jacob, pr. 

Já atuou como Missionário na África do Sul pela Junta de Missões Mundiais da CBB. Atualmente é pastor da Segunda Igreja Batista em Barra Mansa – RJ e professor do Seminário Teológico Batista Sul Fluminense.


Visite o blog do autor: http://oswaldojacob.com/blog/

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