Batalha Espiritual segundo as Escrituras

A idéia de que todo mal — quer sob a forma de sofrimento e misérias,quer sob a forma de pecado — provém da atuação direta de demônios ébastante difundida pelo movimento de batalha espiritual. Na verdade, acreditoque o conceito de que “todo mal é demoníaco” é a mais fundamental doutrinadesse movimento. A esses espíritos malignos é atribuída a responsabilidade,não somente de doenças, desastres, fracassos, divórcios, desemprego e coisassemelhantes, mas também de atitudes pecaminosas, como o uso de drogas, aprostituição, o homossexualismo, o consumo de pornografia e todos distúrbiosmorais de comportamento. Segundo o entendimento de muitos proponentes da”batalha espiritual”, essas entidades maléficas se instalam na vida das pessoas(crentes e descrentes) e nas estruturas sociais, políticas e econômicas dedeterminadas regiões geográficas. Resta à Igreja somente o método de

expelir

 essas entidades dos locais estratégicos onde se instalaram, como meio eficazde combatê-las e libertar as pessoas debaixo de seu controle.O ponto que desejo frisar é que esse ensino do movimento de “batalhaespiritual” é uma perspectiva limitada e reducionista do ensino bíblico acercado sofrimento humano bem como uma avaliação distorcida da realidade quenos cerca. Os diferentes sofrimentos experimentados nessa vida pelos homens

 

 

A idéia de que todo mal — quer sob a forma de sofrimento e misérias,quer sob a forma de pecado — provém da atuação direta de demônios é bastante difundida pelo movimento de batalha espiritual. Na verdade, acredito que o conceito de que “todo mal é demoníaco” é a mais fundamental doutrina desse movimento. A esses espíritos malignos é atribuída a responsabilidade, não somente de doenças, desastres, fracassos, divórcios, desemprego e coisas semelhantes, mas também de atitudes pecaminosas, como o uso de drogas, a prostituição, o homossexualismo, o consumo de pornografia e todos distúrbios morais de comportamento. Segundo o entendimento de muitos proponentes da “batalha espiritual”, essas entidades maléficas se instalam na vida das pessoas (crentes e descrentes) e nas estruturas sociais, políticas e econômicas de determinadas regiões geográficas. Resta à Igreja somente o método de expelir essas entidades dos locais estratégicos onde se instalaram, como meio eficaz de combatê-las e libertar as pessoas debaixo de seu controle.

 

O ponto que desejo frisar é que esse ensino do movimento de “batalhaespiritual” é uma perspectiva limitada e reducionista do ensino bíblico acerca do sofrimento humano bem como uma avaliação distorcida da realidade que nos cerca. Os diferentes sofrimentos experimentados nessa vida pelos homens têm como origem, muitas vezes, não somente a desobediência humana, comotambém o castigo divino. Evidentemente, não sabemos ao certo dizer quando um termina e o outro começa. E é preciso reconhecer que, em casos como o de Jó, Satanás pode servir como instrumento dentro dos propósitos divinos. Provavelmente os efeitos do pecado, os juízos divinos e a atuação dos demônios estão tão interligados em alguns casos que a separação na prática é impossível.

 

De qualquer forma, o conceito defendido pelo movimento de batalha espiritual, de que todo sofrimento, toda miséria e todo mal circunstancial que sobrevêm às pessoas hoje, tem origem demoníaca, não tem qualquer sustentáculo bíblico. Não estou dizendo que os espíritos malignos não atuam na promoção damiséria e da dor, bem como na disseminação do pecado. Negar isso seria negar o ensino da Bíblia. Ela afirma que o diabo veio para matar, roubar e destruir (João 10.10). Afirma também que ele é o pai da mentira (Jo 8.44). Sabemos que Satanás se utiliza da nossa natureza depravada como instrumento de tentação, como se fosse um aliado interno, para nos levar ao pecado. O que estou questionando é a ênfase do movimento de batalha espiritual de que toda forma de mal (circunstancial e moral) provémdiretamente de Satanás, e que ele é, em última análise, o responsável pela nossa escravidão a determinados pecados.

 

Reconheço que muitos cristãos acham extremamente difícil romper comdeterminados comportamentos compulsivos que sabem ser pecaminoso, como ver pornografia, comer em excesso, sentir auto-piedade ou mentir. Estou também pronto a admitir que Satanás procura levar as pessoas a permanecer escravas desses hábitos e padrões pecaminosos. Questiono, porém, a idéia deque tais crentes não conseguem se livrar porque estão debaixo do poder de um determinado espírito maligno que os levam a pecar sempre que esses demônios assim o desejem. Questiono essa idéia porque creio estar claro nas Escrituras que o homem é corrompido o suficiente para atrair sobre si sofrimentos e aflições decorrentes de seus próprios atos (sem que nenhum demônio esteja necessariamente envolvido). A idéia de que todocomportamento compulsivo é decorrente de demonização é um diagnóstico inadequado e abre portas para soluções inadequadas.

 

A Bíblia também ensina que Deus é o autor de males e sofrimentos que envia sobre os ímpios (e mesmo, sobre seus filhos, paracorrigi-los). Com isso não estou, nem por um segundo, sugerindo que Deus é o autor do pecado, ou que seja, no mínimo, cúmplice do mesmo.

 

Quando começamos a ir além da Escritura, e responsabilizamos o diabo por todo o mal que ocorre nesse mundo, corremos alguns riscos:

 

Perdermos de vista o ensino bíblico acerca da queda e depravação dohomem

 

Isto está em completo desacordo com o ensino bíblico de que o coração do homem é endurecido, teimoso e rebelde. Esse ensino tende a justificar os pecados dessas pessoas e sua recusa em submeter-se a Cristo.

 

Perdermos de vista o ensino bíblico acerca da responsabilidade pessoalde cada indivíduo pelos atos que comete

 

O que desejo destacar é a combinação equilibrada entre o reconhecimento de que Satanás pode iludir as pessoas ao pecado e a responsabilidade última que cada pessoa tem diante de Deus por se deixar iludir e praticar a iniquidade. Infelizmente, essa última ênfase tem faltado em muitas das publicações defendendo a “batalha espiritual”. A tendência geralmente é resolver o problema da escravidão ao pecado em termos de expulsão de demônios supostamente responsáveis pelos mesmos, em vez doemprego dos meios bíblicos como a disciplina espiritual.

 

Perdermos de vista o ensino bíblico de que devemos resistir ao pecado

 

É importante observar que nem sempre é fácil distinguir entre os problemas comuns da vida e ataques de espíritos malignos. A dificuldade aumenta quando descobrimos que a Bíblia menciona que, além de Satanás, somos ainda tentados pela carne, pelo mundo e pelas circunstâncias adversas dessa vida. O que muitos defensores da “batalha espiritual” parecem não perceber é que amaioria dos nossos problemas, dificuldades e sofrimentos diários se originam da combinação entre nossa “bagagem de miséria humana básica” (predisposições genéticas, ambiente familiar, deficiências pessoais) e nossas tendências pecaminosas (amargura, ira, raiva, egoísmo). O mundo e o diabo completam o quadro, interagindo entre si para criar situações de conflito, quesão por vezes tão complexas, que não conseguimos classificá-las claramente.

 

O que é mais interessante em tudo isso, é que as Escrituras oferecem aoscrentes uma maneira padrão de agir nessas circunstâncias, seja qual for a origem — ou origens — do conflito: submeter-se a Deus, arrepender-se dos pecados, e resistir ao diabo — e ele fugirá (Tg 4.7-10).

 

Entendendo a batalha espiritual somente em termos de ataques de espíritos malignos, muitos hoje têm negligenciado o ensino bíblico acerca da necessidade de santificação, disciplina espiritual e resistência moral contra as tentações — sejam elas da carne, do mundo ou do diabo. Portanto, é extremamente importante que mantenhamos firmes em nossas mentes o ensino bíblico de que o homem é um ser decaído e que está debaixo do justo juízo de Deus. É importante, não por que desejamos enfatizarmorbidamente essas tristes verdades. Mas, porque precisamos compreender claramente a natureza das misérias e dos males que acometem as pessoas, a responsabilidade que têm nelas, e de que forma devem reagir.

 

Augustus Nicodemus – extraído do livro “Batalha Espiritual” – pp 23-26

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